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Em família: para operar
máquinas, Rogério (à esq.) e Fernando comandam
cerca de 80 policiais, que deveriam servir à lei |
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Criminalidade |
A guerra
dos caça-níqueis |
Briga entre herdeiros de Castor de Andrade
provoca mais de 30 mortes no Rio de Janeiro |
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Por Francisco Alves
Filho |
Mais de 30 homicídios, uma série de atentados, vários policiais
presos ou indiciados por cumplicidade com criminosos. Esses são os
lances da guerra entre dois grupos que se desenrola nas ruas da zona
oeste do Rio de Janeiro pelo controle das máquinas caça-níqueis. A
disputa acontece principalmente no quartel-general do jogo do bicho
carioca, o bairro de Bangu, onde o falecido capo Castor de Andrade
deixou a dois herdeiros o seu espólio. De um lado, está o sobrinho
Rogério Andrade e do outro o genro Fernando Ignácio. Em 1997, Castor
determinou que Rogério trataria dos pontos de bicho, enquanto
Fernando cuidaria dos caça-níqueis. Com a derrocada do jogo do
bicho, o sobrinho resolveu em 2001 explorar as maquininhas. Desde
então a guerra explodiu. Os últimos meses foram os mais violentos e
os assassinatos se multiplicam. No caso mais recente, o policial
civil aposentado Clair de Oliveira, que era investigado por
envolvimento com os contraventores, foi morto a tiros por dois
homens que estavam numa motocicleta. No mês passado, cinco pessoas
foram assassinadas.
“Uma das principais dificuldades de investigar a máfia dos
caça-níqueis é o grande número de policiais envolvidos”, avalia o
delegado Milton Olivier, da Delegacia de Repressão ao Crime
Organizado. “Há muitos casos de vazamento de informação sobre as
nossas operações.” Há uma semana, Olivier concluiu o inquérito em
que indiciou 29 pessoas por formação de quadrilha. Entre elas
Fernando Ignácio, Rogério Andrade e Renato Andrade, seu sócio. O
inquérito foi encaminhado ao Ministério Público Estadual, onde há
outros sete inquéritos sobre o mesmo assunto. Além de responder por
formação de quadrilha, Rogério foi condenado em 2000 pelo
assassinato do primo, Paulinho Andrade, filho de Castor, ocorrido
dois anos antes. Rogério está foragido. O delegado Olivier não se
arrisca a estimar o número de máquinas pertencentes a cada lado, já
que eles são responsáveis por caça-níqueis instalados até mesmo em
outros Estados, mas desde o início da guerra já saíram de circulação
mais de 800 delas, entre destruídas e apreendidas. O delegado também
prefere não estimar o número de capangas dos dois grupos, mas fontes
da Secretaria de Segurança avaliam que Rogério e Fernando têm sob
seu comando pelo menos 86 agentes que deveriam estar do lado da lei.
A ligação dos contraventores com a máfia italiana está sendo
investigada e também a lavagem de dinheiro por intermédio de
empresas fantasmas uruguaias, entre elas a Rhondda Sociedad Anonima,
denunciada por ISTOÉ. Em março, o delegado Olivier apreendeu numa
empresa ligada a Rogério vários caça-níqueis desmontados, com
manuais redigidos em espanhol. |