CPI vai apontar doação
de bingos a Lula
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O relatório final da CPI dos Bingos deverá afirmar que
a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto
recebeu R$ 1 milhão de empresários de bingos em troca
da regulamentação da atividade no país. O texto
deverá propor a liberação dos bingos sob controle
da União e submetida a um referendo popular marcado para 2008,
antecipou o relator Garibaldi Alves (PMDB-RN).
Ele pretende fechar a versão preliminar do relatório na
quinta. O texto deve ser submetido à votação em
8 de junho.
Sem ter obtido provas do pagamento dos bingueiros, o relatório
se baseará em indícios e sobretudo no testemunho do advogado
Rogério Buratti, ex-assessor do ex-ministro da Fazenda Antonio
Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto.
Buratti declarou à CPI que empresários ligados a bingos
teriam doado R$ 1 milhão à campanha de Lula. O dinheiro
seria de angolanos que exploravam jogos e teria sido captado pelo empresário
Roberto Kurzweil, em nome de Palocci.
No primeiro ano de governo, Lula encaminhou a liberação
dos bingos, que atuavam, como hoje, por conta de liminares concedidas
pela Justiça ou de forma clandestina. Em janeiro de 2004, estava
pronta a proposta de um grupo de trabalho interministerial, mas a regulamentação
foi atropelada pelo escândalo Waldomiro Diniz.
Depois que o então assessor de José Dirceu na Casa Civil
foi flagrado cobrando propina do empresário de jogos Carlos Cachoeira,
Lula se viu forçado a baixar medida provisória proibindo
bingos e máquinas caça-níqueis no país.
A MP acabou rejeitada no Congresso.
Apesar de o Supremo Tribunal Federal considerar que a legislação
não libera o jogo, haveria hoje cerca de 400 casas de bingos,
segundo a CPI.
O senador Garibaldi Alves disse ontem que tende a propor a regulamentação
dos bingos no relatório final. Para evitar sonegação
de impostos ou lavagem de dinheiro, o relatório deverá
propor que os jogadores sejam identificados. "Essa é a tendência,
mas preciso ouvir mais a comissão", disse ele.
Fonte: Folha de São Paulo em 22-05-2006.